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Archive for the ‘Música’ Category

A figura de Tom Waits chama a atenção em vários aspectos. A começar por sua voz, que já fora polida e aveludada, mas que se desgastou, ou se fortaleceu, com o passar dos anos.

Ouvir Tom Waits é ir para o seu inferno particular, remexer nas piores sensações, sentimentos e desgostos. Seja através da decadência na metrópole, da explicitação da inutilidade humana ou mesmo do desgosto a determinadas paixões, Tom Waits conversa com as entranhas do ouvinte através de sua voz envelhecida em carvalho, filtrada no carvão e defumada durante meses.

Sua performance dialoga com a voz, ilustrando-a em uma quase-coreografia da dor. Ver Tom Waits é reconhecer a própria dor, encará-la, e sair para beber para resolver suas divergências.

No começo do ano, ele (finalmente) entrou para o Rock and Roll Hall of Fame. Para nomear o americano, o canadense Neil Young foi escolhido.

Além de ter uma performance tão intensa quanto sua voz, Tom Waits também investe outras mídias de forma tão esquisita quanto sua música. Sua atuação mais famosa é no filme Down by Law, de 1986.

Abaixo, uma “coletiva” de imprensa (vale MUITO a pena assistir) e um curta que mostra a criação de uma ótima escultura inspirada no cantor.

Um dos seus álbuns mais recentes, Glitter and Doom Live, é um registro ao vivo que contém toda a intensidade da voz atual de Tom Waits. Dirt in the Ground é apenas UM dos inúmeros pontos-altos do disco.

*** UPDATE!!

Tom Waits acaba de anunciar um novo álbum, Bad As Me, que será lançado no dia 25 de outubro. O disco foi produzido por ele e sua mulher, Kathleen Brennan. Ele lançou mais um de seus vídeos loucos para divulgação. E, obviamente, é fodástico!

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Pokey LaFarge

Peter La Farge (1931-1965) foi um músico descendente de índios americanos. Ele viveu em New York e teve uma participação ativa no revival do folk no final dos anos 50. Era famoso por suas baladas com mote indígena e foi regravado por várias pessoas, como Johnny Cash e Bob Dylan.

Quando vi o nome de Pokey LaFarge, fiquei curioso porque achei se tratar de um familiar de Peter. Não consegui achar nenhuma relação sanguínea, mas a interpretação de Pokey tem traços que remetem a seu pseudo-parente, com uma voz ora empostada, ora falada.

Pokey resgata de forma pura e tradicional a raíz da música americana através do jazz/country do começo do século XX. O preciosismo está desde os instrumentos até as roupas usadas por ele e pela sua banda de apoio, o South City Three. O estilo vocal e o fraseado usado por Pokey deixam a música ainda mais intrigante de ouvir.

Veja abaixo a ótima participação deles no Tiny Desk Concert, da NPR.

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Neil Young sempre mesclou épocas acústicas e intimistas com fases elétricas e sujas. Nos dois extremos, demonstrava não só qualidade como, principalmente, autenticidade. Se pegarmos esses perfis e adicionarmos uma abordagem feminina que remete à Cat Power e Nico, teremos Sarabeth Tucek. Mais didático, impossível!

Okay, ela não tem a técnica instrumental do canadense; e também falta um pouco de dor para chegar na profundidade de Chan Marshall (e mais dor ainda para Chelsea Girl). Contudo, ainda assim há qualidade em Sarabeth e ouví-la é prazerosamente reconfortante.

Tudo começa pela melancólica e “nick-drakeana” The Wound and the Bow. Como abertura, a canção parece te situar no poço de sofrimento que Sarabeth se encontrava quando compôs as outras músicas. Soando quase conceitual, o álbum é uma representação – ou o registro – de boa parte dos sentimentos sofridos em uma desilusão. Não à toa, a última faixa do disco é a que dá o nome otimista ao álbum: Get Well Soon [“Fique bem logo”].

Wooden, a música seguinte, já traz uma mistura das duas fases de Neil Young: começa apenas com voz e violão e cresce para uma rasgante jam que poderia muito bem ser gravada pelos Crazy Horses.

A View parece ser uma introdução intimista para a canção que se segue, The Fireman. Uma bela música folk que nos lembra de Elliott Smith e suas canções acompanhadas de banda. Há também as baladas pianísticas, como Things left behind e At the bar.

Sarabeth abre para Bob Dylan em 2007

Mesmo com referências “vintages”, Sarabeth Tucek soa não apenas atual, como autoral. Este não é o primeiro disco da americana e, muito por causa disso, já mostra uma cantora madura (chegou a participar do disco Supper, quando Bill Callahan ainda era Smoog). Sarabeth consegue transferir com autenticidade, mas de forma minimalista, os sentimentos em suas interpretações.

Infelizmente, o disco não foi lançado no Brasil. O NewAlbumReleases disponibilizou Get Well Soon para download.

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A primeira vez que conheci Bill Callahan foi através da coletânea New Harvest, que saiu na revista MOJO de agosto de 2009. A música era Eid Ma Clack Shaw, com uma letra estranha de um sonho com essa frase ininteligível. A canção era bacana, mas o nome esquisito e a “trama” da canção me chamou mais a atenção do que a voz que a cantava.

Lembro também que notei a voz de Bill Callahan: nas minhas garimpadas aleatórias, me deparei com sua participação no Tiny Desk Concert, da NPR. A primeira canção foi Jim Cain, uma música calma que se inicia apenas com uma guitarra limpa e descrescente. Depois de uma percussão sutil e cordas que mais criam ambiente do que harmonia, entra a voz de Bill Callahan.

Ao ouvir, a única coisa que eu precisava saber era o quê ele falava. Não era apenas uma voz com timbre grave e límpido: soava como uma voz da consciência, dizendo coisas que você sabia que precisava prestar a atenção. (Não estou dizendo que a voz era de sabedoria. Esse cargo já está nas mãos de Leonard Cohen – e Johnny Cash fica com o cargo de voz da verdade. Tom Waits ocupa a função de voz da dor).

Tanto Eid Ma Clack Shaw e Jim Cain são do segundo CD como Bill Callahan – antes ele se intitulava Smog -, chamado Sometimes I wish we were an eagle, de 2009. O álbum traz exatamente essa atmosfera, com canções tranquilas, soltas e estruturadas baseadas na voz de Bill.

As letras estão à altura da voz de Callahan, como bem descreveu Stephen Thompson, da NPR, ao menos uma frase de cada música apresentada no Tiny Desk Concert te prende a atenção:

Jim Cain: “I used to be darker / Then I got lighter / Then I got dark again.”
Rococo Zephyr: “I used to be sorta blind / But now I can sorta see.”
Too Many Birds: “If you could only stop your heartbeat for one heartbeat…”

Em 2010, ele lançou o disco ao vivo Rough travel for a rare thing. O registro resgata tanto o clima leve e “reflexivo” quanto canções que funcionam mais no palco. Vale a ouvida!

A última novidade de Callahan foi no começo do mês, com o lançamento do terceiro álbum de estúdio, Apocalypse. Ao ouvir, me veio à cabeça algumas músicas da fase solo – mas não esquizofrênica – de Lou Reed.

Em Apocalypse, as músicas instrospectivas dividem espaço com canções mais pontiagudas, mostrando uma relativa agressividade de Callahan. É o caso da primitiva Drover e da irônica America.

Este último disco é bom, mas não supera o Sometimes I wish we were an eagle. O New Album Releases disponibilizou os três álbuns citados para download.

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Ouça – The Deep Dark Woods
Conheci a banda canadense através de uma interpretação da música Pretty Peggy-O. Ao pesquisar mais sobre o grupo, encontrei dois álbuns: Hang me oh hang me (2007) e Winter hours (2009). Cada um tem um estilo e atmosfera única, mas os dois são ótimos pelos arranjos instrumentais, principalmente nos diálogos entre guitarra e teclado, além do timbre grave e aveludado da voz de Ryan Boldt.

 

Leia – A Cauda Longa (Chris Anderson)
Um livro sobre a metamorfose do mercado a partir do nascimento da Internet e o papel relevante do consumidor como “influenciador”. Chris Anderson, editor da revista Wired, exemplica a mudança de foco do lucro, que antes era direcionado apenas em produtos de grande sucesso e agora torna também relevante os chamados “mercados de nicho”. Como objeto de estudo de sua análise, empresas online como a Amazon.

 

Veja – Só dez por cento é mentira (Pedro Cezar)
Considerado um longa-metragem documentário, talvez seria mais justo se Só dez por cento é mentira fosse rotulado como um “longa-ensaio-poético”. Dirigido por Pedro Cezar, o filme utiliza como pano de fundo a poesia e a vida do cuiabano Manoel de Barros. A partir de uma descrição lúdica, com influência da infância, Manoel conseguiu traduzir em palavras situações tão corriqueiras quanto mágicas. Entre suas frases: “imagens são palavras que nos faltaram” e “para encontrar azul eu uso pássaros”. E o belo filme não fica atrás. Assista o trailer.

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Meu primeiro contato com Edward Sharpe and the Magnetic Zeros foi através de um vídeo que me deparei de pai e filha cantando Home, uma das canções do grupo americano.

Apesar de ter sido a pergunta “One day i’m gonna whistle?” (Um dia eu vou assoviar?) da pequena Alexa a coisa que mais me chamou atenção no vídeo, a canção é de um romantismo e alegria que me fez ficar curioso em conhecer a versão original.

Ao procurá-la, encontrei um vídeo de uma apresentação no programa Late Show, apresentado por David Letterman. Mais uma vez, a música (quase) ficou em segundo plano com o despretenciosismo na performance: o casal estava não apenas curtindo aquilo, mas aparentando explicitamente que eles estavam cantando para eles próprios, ao invés de montar uma apresentação voltada ao público. É como o refrão diz: Home is wherever I’m with you (Lar é qualquer lugar em que eu esteja com você).

O álbum de estréia, Up From Below – lançado em 2009 – varia em diversas vertentes. Ora hippie, ora folk, ora indie. O blog do Lenhador disponibilizou o CD para download.

Sugiro.

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Bye bye 2010

Faltando dois dias para o fim do ano, trabalhando nessa reta final, me deparo com algo que me faz parar de me preocupar e simplesmente saber que as coisas estão caminhando para algo e que, como um bom relacionamento, 2011 não me promete nada, apenas me convida.

Melody Gardot – Bye Bye Blackbird (EP)


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Black Dub

Tenho que admitir que me interessei em ver o vídeo abaixo não só pelo carimbo de qualidade da NPR, que sempre compartilha e divulga coisas ótimas, mas pelo nome de Daniel Lenois. O canadense é produtor músical e no seu currículo estão dois álbuns de Bob Dylan: Oh Mercy (1989) e Time Out Of Mind (1997).

O projeto divulgado no Tiny Desk Concert, intitulado Black Dub, é uma parceria de Lanois com a cantora de 23 anos Trixie Whitley – além dos músicos Brian Blade e Daryl Johnson.

Ao ouvir o início da canção Surely, que abre o vídeo, gostei da voz meio rouca e grave de Trixie, o que me fez continuar ouvindo enquanto trabalhava. Porém, ao chegar no refrão, com uma voz que parece sair direto do coração, fiquei pasmo e precisei ouvir a música várias vezes seguidas.

Assim como dito por Stephen Thompson, a figura de Lanois parece servir como um suporte, quase paterno, da força de interpretação mesclada com uma timidez evidente de Trixie entre uma canção e outra. O produtor Lanois está apenas segurando o banco da bicicleta enquanto Trixie ainda aprende a se equilibrar. Porém, é possível ver Daniel soltando o selim e deixando que a cantora caminhe pelos seus próprios sentimentos e ande com as próprias pernas.

A qualidade como instrumentista de Lanois também deve ser lembrada. Como um bom produtor, sabe a hora de dar destaque e os momentos de se ausentar durante as canções.

O álbum de estréia de Black Dub foi gravado de uma maneira menos intimista do que a apresentação acima. Porém, ainda é possível ouvir as qualidades na interpretação de Trixie, além do equilíbrio de produção de Daniel Lanois.

Abaixo, a versão com a banda toda de I believe in you:

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Alguns anos após a morte de Mao Tse-tung – que com sua Revolução Cultural cortou relações da China com o restante do mundo, proibindo até o ensino de música erudita européia – o lendário violinista Isaac Stern é convidado a visitar o país. O objetivo era, além de estreitar as relações entre a China e o ociente, que o músico ucraniano compartilhasse suas técnicas e abordagens musicais.

Esta é a espinha dorsal do documentário “De Mao a Mozart”, dirigido por Murray Lerner, que no currículo tem vários outros registros na área da música, passando de Bob Dylan a The Who.

O documentário aborda basicamente três temas: A exótica cultura chinesa, os ensinamentos na interpretação de Isaac Stern e os tratos com os professores de música contrários à Revolução Cultural instituída no país.

As passagens em que Stern faz algo que se parece um workshop, dando dicas de interpretação e técnicas no violino a músicos chineses é tão brilhante quanto didática. É uma boa lição para entender o que faz um músico ser um bom intérprete. Como a técnica pode tanto aprimorar como limitar uma perfomance.

Em contraste com a beleza dos ensinamentos de Stern, o doumentário relata os tratos aos professores dos conservatórios que se arriscaram a ensinar músicas de compositores eruditos europeus nos conservatório de música. Um professor afirma que pior do que toda a tortura que sofreu, a humilhação de ser tratado como criminosos foi mais traumatizante ainda.

Abaixo, o documentário “De Mao a Mozart” (na íntegra):

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Ouça – Ain’t got no troubles (Eden Brent)
A pianista e cantora Eden Brent pode ser colocada no mesmo patamar que Madeleine Peyroux, mas em estantes diferentes. Eden retoma o som do começo do século XX, mas sua maior influência (que funciona como espinha dorsal nas canções) são os boogie-woogies sob canções no estilo blues, jazz e referências ao gospel. Ain’t got no troubles (download) é o terceiro álbum da americana, lançado em 2010.

 

Leia – A Paixão Segundo G.H. (Clarice Lispector)
Um romance tão enigmático quanto o nome da protagonista. O livro, escrito com a técnica de fluxo de consciência, narra os devaneios de uma mulher da alta sociedade carioca no quarto da empregada. Ao se deparar com uma barata, G.H. passa a refletir sobre sua individualidade e a forma como vê o mundo (ou o quê usa para não vê-lo). Um livro difícil, mas essencial para propor uma ótima reflexão sobre o auto-conhecimento.

 

Veja – Note by note (documentário)
Um filme sobre a manufatura do piano D-274, da classuda Steinway & Sons. O documentário registra todos os processos de produção do lendário instrumento e intercala com entrevistas de pianistas diversos (Hélène Grimaud, Lang Lang e Harry Connick Jr. são apenas alguns) explicando os pré-requisitos e como nasce a relação entre o instrumentista e seu piano. O modelo D-274 foi o favorito de músicos como Glenn Gould e Vladimir Horowitz.

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