Mais que as aulas da disciplina “História da Arte”, que eu tive na faculdade e tenho quase certeza que elas NÃO ocorreram, lembro-me de um fato que ilustra bem o engajamento artístico da docente, que além de professora era diretora do curso de Artes Plásticas da universidade.
Na apresentação do trabalho final da matéria, eis que testemunho o seguinte diálogo.
– Vocês são os próximos a apresentarem o trabalho? – indagou a experiente preceptora a um grupo pequeno.
– Sim, ‘fêssora – responderam em uníssono os discentes.
– Olá, meu nome é Roberta. – (O nome talvez seja fictício. Não o lembro exatamente. Guardo apenas suas ausências freqüentes).
Dito isso, coloco-me na posição de leigo em Artes. Não (apenas) pelo fato em questão, mas por uma certa falta de entusiasmo. Assim como só fui apreciar música erudita depois do quarto de século de vivência.
Fui a São Paulo visitar a Virada Russa, que o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) trouxe ao país. A exposição foi disposta em quatro andares do belo prédio, localizado no centro antigo da capital.
A exposição é toda dividida em sub-temas, como no sub-solo, com uma abordagem sobre o engajamento dos artistas durante a Revolução Russa, quando eles se preocuparam menos com as novas tendências artísticas, para focarem suas obras em cartazes e louças com mensagens em prol do Comunismo. Os cartazes são verdadeiras obras de arte. O amálgama criado entre a arte, informação, engajamento e didatismo é envolvente. Às vezes é possível ver uma animação 3D nos cartazes manuais. Em outras, uma propaganda televisiva, com cenas, diálogos e um roteiro primoroso.
Nos outros andares, são apresentadas justamente as inovações da vanguarda russa, como é o caso das obras de Kazimir Maliévitch.
Um artista que segundo os curadores da exposição, Ania Rodríguez Alonso e Rodolfo de Athayde, não é tão conhecido e valorizado no Ocidente, foi quem mais me impressionou. Pável Filónov conseguia fazer uma fusão de diversas linguagens, novas e canônicas, para montar um quadro cheio de mensagens e significados.
Há também a obra Promenade, de Marc Chagall, outro ponto alto da exposição (Não por ficar no último andar, mas por ser um momento lírico dentro do surrealismo).
A exposição no CCBB de São Paulo vai até o dia 15 de novembro. A entrada é gratuita!