O ambiente de música erudita é conhecido pela sobriedade. Num concerto, o silêncio deve ser absoluto durante as peças e alguns costumes (como não aplaudir entre um movimento e outro) produzem uma atmosfera carrancuda e introspectiva, mesmo quando as obras apresentadas inspiram alegria e uma apologia à dança, por exemplo.
Seria uma inocência achar que os bastidores do cenário erudito fosse um espelho do que ocorre nos palcos. Alguns músicos devem seguir a risca esse respeito fechado e sério, mas, por sorte, temos aqueles que conseguem suavizar e deixar o ambiente agradável, desaparecendo as barreiras e os guias de conduta da música clássica.
Itzhak Perlman talvez seja o de maior destaque.
Neste vídeo, durante um aparente workshop (ou algo assim), ele observa um garoto executar um staccato (a grosso modo: quando toca-se duas ou mais nota com um hiato entre elas, “batendo” rapidamente o arco nas cordas).
Quando o garoto termina, ele conta uma história do violinista Josef Gingold, que não dominava bem a técnica do staccato. Durante um concerto, o também violinista Eugène Ysaÿe, que tinha uma presença imponente, questionou o staccato de Gingold e ofereceu ajuda para aprimorá-lo. Pediu a concentração de Gingold e gritou: “Vai!”. O violinista ficou tão nervoso que nunca mais desaprendeu a “tremer” com o arco.
Outro momento protagonizado por Perlman se dá no mesmo evento. Ele explica que durante a gravação do Capricho número 5 de Paganini, em um lugar grande e que ecoava bastante, ao ouvir o playback do que gravou, Itzhak ouviu uma mistura de notas e sons por conta da reverberação. Bem humorado, ele justifica: “Eu sei que eu toquei todas as notas!”.
Abaixo, outros registros de momentos de descontração entre os músicos eruditos, tão acostumados à solenidade e rituais monótonos.