Usando uma palavra supimpa e utilizando um conceito complexo, poderia dizer que esta música da Video Hits é “metalingüística”. Há uma série de citações de músicas da Jovem Guarda, mas a letra vai além. Faz-se uma espécie de manifesto, explicando e trazendo argumentos que fundamentam a “razão de ser” da banda e de sua sonoridade. Portanto, um post especial sobre uma pequena interpretação dessa música.
Antes, vamos à letra completa:
Video Hits – 5ª embalada
Roda, roda, roda e avisa o minuto pros comerciais
Sei que em cada roda nessa pista está treinada pra queimar sinais
Aquele sonho antigo de passar pelo inimigo com rodas a mais
Traz para a lembrança outro sonho de criança que ficou pra trásVocê abusou do iê-iê-iê
Ta na hora de mostrar que nada mais vai me fazer parar
Nada mais vai me fazer pararEsse carro antigo, agora envenenado, não vai perdoar
Aquelas estradas, muitas curvas judiadas, teve que passar
Tantos os tormentos enferrujaram os rolamentos de meu coração
Mas com o pé na estrada, põe uma quinta embalada por essa cançãoVocê abusou do iê-iê-iê
Ta na hora de mostrar que nada mais vai me fazer parar
Nada mais vai me fazer pararSe deixei alguém a esperar
Não, não, não
Nada mais vai me fazer parar
(No post anterior, tem o link do álbum, “Registro Sonoro Oficial”, onde se encontra a música em questão).
Além de fazer uma homenagem aos anos sessenta, com diversos elementos que ilustram aspectos culturais dessa época, Diego Medina e Michel Vontobel, autores da música, “justificam” a sonoridade e abordagem retrô escolhida pelo grupo.
No refrão, uma pista da intenção da VH: “Você abusou do iê-iê-iê/Ta na hora de mostrar que nada mais vai me fazer parar…”. Apesar da crítica não ter tratado muito bem a Jovem Guarda nos anos sessenta, atribuindo a ela uma superficialidade e futilidade cultural, a música afirma que agora ninguém vai faze-los parar, pois continuarão utilizando da sonoridade sessentista brasileira em suas músicas, seja fazendo uma revisitação dos “clichês” (como os vocais de fundo e as linhas de órgão, por exemplo), ou uma releitura de músicas (é o caso de “Silvia 20 horas domingo”, sucesso de Ronnie Von, de 1968). Porém, essa intenção de explicar a expressão artística da VH está mais evidente numa outra estrofe.
Esse carro antigo, agora envenenado, não vai perdoar
Aquelas estradas, muitas curvas judiadas, teve que passar
Tantos os tormentos enferrujaram os rolamentos de meu coração
Mas com o pé na estrada, põe uma quinta embalada por essa canção
Temo aqui uma alusão a duas músicas básica da Jovem Guarda: “O Calhambeque” e “As curvas da estrada de Santos”. Porém, a letra mostra que agora o carro dos anos 60 não é mais o mesmo, está “envenenado”, assim como a Video Hits e seu sessentismo. A estrada que judiou do automóvel e que é um dos ícones dessa geração, serve como algo a ser lembrado e estudado. Agora o carro irá mais rápido, seguindo numa quinta marcha embalada e correndo solto nessa revisitação e curtição vintage.
Portanto, essa quase música-manifesto deu dicas da intenção da Video Hits. Infelizmente a banda não durou tanto tempo quanto deveria, mas ajudou a trazer de volta uma fase do rock brasileiro que, quer queira, quer não, teve muita importância.