De imprevisto, fui nesta sexta-feira ao Centro Cultural São Paulo para assistir versões de Arrigo Barnabé para músicas de Lupicinio Rodrigues. Com um formato intimista, cantando na companhia de um pianista e um violonista (que alternava violão e baixolão), Arrigo se despiu das abordagens rebuscadas e experimentais do seu histórico da Vanguarda Paulistana e trouxe interpretações que contemplam toda a dor-de-cotovelo típica das canções de Lupicinio.
A apresentação ocorreu na Sala Adoniran Barbosa, que já traz consigo uma visão diferenciada: O público fica acima do local da performance, como que olhando dentro de um grande poço (de conhecimento. RÁ!).
Apesar de entoar de forma mais tradicional as músicas de Lupicinio, Arrigo conseguiu trazer novas roupagens, distanciando-se do samba/choro sem denegrir a personalidade das canções.
Em “Nervos de aço”, transformou-a em um jazz bem intimista, e cantou com uma voz mais gutural, como se fosse um Tom Waits miserável da música brasileira. “Vingança” ganhou um diálogo mais jovial, com a inclusão de uns “xá-bi-roo-bah” nos coros.
O brinde ficou por conta de uma música que eu nunca ouvira antes – aliás, essa apresentação serviu de estímulo para conhecer mais a obra de Lupicinio. Uma história tão trágica quanto cômica que só consegue um exato equilíbrio nas mãos de um especialista em desastres que consegue rir dos seus próprios problemas.
Pra São João decidir
Ah que alegria
Levantei de madrugada
Por que a noite passada
Eu não consegui dormirRosinha disse que ia por num papelzinho
O meu nome e o do vizinho
Pra São João decidirO que ficasse de manhã mais orvalhado
Ia ser seu namorado
Ia com ela casarE eu tinha tanta confiança
Neste santo
Que apostei um conto e tanto
Que era eu que ia ganharSabem o que foi que eu vi quando rompeu o dia?
Vi foguete que explodia
Busca-pé, lança rojão
Era o vizinho que já tinha triunfado
Festejando entusiasmado
O dia de São JoãoEntão de noite
Foi mais grossa a brincadeira
Acendeu-se uma fogueira
Todo mundo foi pularSó eu chorando a traição
Daquele santo
Soluçava no meu canto
Vendo a lenha se queimar