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Archive for the ‘Artistas’ Category

Bob Desper

Gosto de ouvir músicas feita por cegos. Acho que a idéia sinestésica de que a falta da visão irá aprimorar – e descomplementar – a audição de algum deficiente visual é interessante e curiosa. Um desses músicos cegos é Bob Desper, que conheci recentemente. Além de sua provável audição preciosa, sua história me entreteu e me persuadiu.

Cego desde os 10 anos, o americano nascido resolveu aos 24 anos gravar seu primeiro disco. Era 1974 quando Bob comprou um violão Martin D-28 novo e, no dia seguinte, seguiu para o estúdio para gravar uma porção de músicas e improvisos. Todas em apenas um take cada.

Ele intitulou o album de New Sounds. Foram impressos 500 cópias, mas mal se ouviu falar delas. Assim como Bob Desper que sumiu tão repentinamente como sua visão.

Para mim, o grande valor de New Sounds é saber que são rascunhos de canções e improvisos, todos gravados sem repetições. Imagino o som que ele ouvia enquanto dedilhava e criava algumas boas dissonâncias no seu novíssimo Martin.

Outro ponto que me cativou foi a maneira como gravou. Ele não tinha contrato com gravadora ou uma carreira musical sólida. Sua vontade era apenas brincar e registrar suas canções. Simples assim. E é com essa simplicidade que ele criou algo belo.

Sua música tem uma estética parecida com Nick Drake, mas a atmosfera que ele cria não tem comparação com o músico britânico. Ao contrário de Drake, Desper faz uma música também intimista, mas positiva, esperançosa. Quando questionado qual temática existia por trás de todas suas músicas, ele respondeu: união (Togetherness).

Bob Desper está vivo, mas por conta um machucado tratado grosseiramente na mão, ele não consegue tocar da mesma maneira.

Graças a Discourage Records, New Sounds foi descoberto e re-lançado no ano passado.

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A figura de Tom Waits chama a atenção em vários aspectos. A começar por sua voz, que já fora polida e aveludada, mas que se desgastou, ou se fortaleceu, com o passar dos anos.

Ouvir Tom Waits é ir para o seu inferno particular, remexer nas piores sensações, sentimentos e desgostos. Seja através da decadência na metrópole, da explicitação da inutilidade humana ou mesmo do desgosto a determinadas paixões, Tom Waits conversa com as entranhas do ouvinte através de sua voz envelhecida em carvalho, filtrada no carvão e defumada durante meses.

Sua performance dialoga com a voz, ilustrando-a em uma quase-coreografia da dor. Ver Tom Waits é reconhecer a própria dor, encará-la, e sair para beber para resolver suas divergências.

No começo do ano, ele (finalmente) entrou para o Rock and Roll Hall of Fame. Para nomear o americano, o canadense Neil Young foi escolhido.

Além de ter uma performance tão intensa quanto sua voz, Tom Waits também investe outras mídias de forma tão esquisita quanto sua música. Sua atuação mais famosa é no filme Down by Law, de 1986.

Abaixo, uma “coletiva” de imprensa (vale MUITO a pena assistir) e um curta que mostra a criação de uma ótima escultura inspirada no cantor.

Um dos seus álbuns mais recentes, Glitter and Doom Live, é um registro ao vivo que contém toda a intensidade da voz atual de Tom Waits. Dirt in the Ground é apenas UM dos inúmeros pontos-altos do disco.

*** UPDATE!!

Tom Waits acaba de anunciar um novo álbum, Bad As Me, que será lançado no dia 25 de outubro. O disco foi produzido por ele e sua mulher, Kathleen Brennan. Ele lançou mais um de seus vídeos loucos para divulgação. E, obviamente, é fodástico!

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Um vídeo que merece ser postado mesmo que sem um texto sobre. Simples assim: O show do Nirvana no Hollywood Rock de 1993 na íntegra. Com direito a Dave Grohl e Kurt Cobain em roupas íntimas femininas! Fodástico!

via Trabalho Sujo

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Entrou em cartaz um documentário sobre os Novos Baianos, dirigido por Henrique Dantas, chamado Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano. O filme tem depoimentos de integrantes (infelizmente eu não vi a Baby Consuelo no trailer), além de pessoas próximas, como o excelentíssimo Tom Zé.

Abaixo, os primeiros três minutos:

E o trailer, que entrega mais um pouco:

Via Trabalho Sujo

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Pokey LaFarge

Peter La Farge (1931-1965) foi um músico descendente de índios americanos. Ele viveu em New York e teve uma participação ativa no revival do folk no final dos anos 50. Era famoso por suas baladas com mote indígena e foi regravado por várias pessoas, como Johnny Cash e Bob Dylan.

Quando vi o nome de Pokey LaFarge, fiquei curioso porque achei se tratar de um familiar de Peter. Não consegui achar nenhuma relação sanguínea, mas a interpretação de Pokey tem traços que remetem a seu pseudo-parente, com uma voz ora empostada, ora falada.

Pokey resgata de forma pura e tradicional a raíz da música americana através do jazz/country do começo do século XX. O preciosismo está desde os instrumentos até as roupas usadas por ele e pela sua banda de apoio, o South City Three. O estilo vocal e o fraseado usado por Pokey deixam a música ainda mais intrigante de ouvir.

Veja abaixo a ótima participação deles no Tiny Desk Concert, da NPR.

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Sim, é possível ouvir um som acústico com atitude. Mais que isso: é possível sentir vontade de bater-cabeça ao ouvir violão, baixolão e afins. E não é necessário muitos instrumentistas, vários vocais e um clima cigano, como o Gogol Bordello. Basta conhecer The Builders and the Butchers.

Com uma formação diferente, principalmente por conta da bateria “dividida” em dois integrantes, O Builders and the Butchers fazem um som com dinâmica e com muita vontade. O último álbum, Dead Reckoning, foi lançado este ano e deve ser ouvido por quem gosta de folk, folk rock, rock ou até mesmo quem gosta da atitude percussiva de Cordel do Fogo Encantado. E estou falando sério.

O NewAlbumReleases disponibilizou o Dead Reckoning para download.

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Neil Young sempre mesclou épocas acústicas e intimistas com fases elétricas e sujas. Nos dois extremos, demonstrava não só qualidade como, principalmente, autenticidade. Se pegarmos esses perfis e adicionarmos uma abordagem feminina que remete à Cat Power e Nico, teremos Sarabeth Tucek. Mais didático, impossível!

Okay, ela não tem a técnica instrumental do canadense; e também falta um pouco de dor para chegar na profundidade de Chan Marshall (e mais dor ainda para Chelsea Girl). Contudo, ainda assim há qualidade em Sarabeth e ouví-la é prazerosamente reconfortante.

Tudo começa pela melancólica e “nick-drakeana” The Wound and the Bow. Como abertura, a canção parece te situar no poço de sofrimento que Sarabeth se encontrava quando compôs as outras músicas. Soando quase conceitual, o álbum é uma representação – ou o registro – de boa parte dos sentimentos sofridos em uma desilusão. Não à toa, a última faixa do disco é a que dá o nome otimista ao álbum: Get Well Soon [“Fique bem logo”].

Wooden, a música seguinte, já traz uma mistura das duas fases de Neil Young: começa apenas com voz e violão e cresce para uma rasgante jam que poderia muito bem ser gravada pelos Crazy Horses.

A View parece ser uma introdução intimista para a canção que se segue, The Fireman. Uma bela música folk que nos lembra de Elliott Smith e suas canções acompanhadas de banda. Há também as baladas pianísticas, como Things left behind e At the bar.

Sarabeth abre para Bob Dylan em 2007

Mesmo com referências “vintages”, Sarabeth Tucek soa não apenas atual, como autoral. Este não é o primeiro disco da americana e, muito por causa disso, já mostra uma cantora madura (chegou a participar do disco Supper, quando Bill Callahan ainda era Smoog). Sarabeth consegue transferir com autenticidade, mas de forma minimalista, os sentimentos em suas interpretações.

Infelizmente, o disco não foi lançado no Brasil. O NewAlbumReleases disponibilizou Get Well Soon para download.

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A primeira vez que conheci Bill Callahan foi através da coletânea New Harvest, que saiu na revista MOJO de agosto de 2009. A música era Eid Ma Clack Shaw, com uma letra estranha de um sonho com essa frase ininteligível. A canção era bacana, mas o nome esquisito e a “trama” da canção me chamou mais a atenção do que a voz que a cantava.

Lembro também que notei a voz de Bill Callahan: nas minhas garimpadas aleatórias, me deparei com sua participação no Tiny Desk Concert, da NPR. A primeira canção foi Jim Cain, uma música calma que se inicia apenas com uma guitarra limpa e descrescente. Depois de uma percussão sutil e cordas que mais criam ambiente do que harmonia, entra a voz de Bill Callahan.

Ao ouvir, a única coisa que eu precisava saber era o quê ele falava. Não era apenas uma voz com timbre grave e límpido: soava como uma voz da consciência, dizendo coisas que você sabia que precisava prestar a atenção. (Não estou dizendo que a voz era de sabedoria. Esse cargo já está nas mãos de Leonard Cohen – e Johnny Cash fica com o cargo de voz da verdade. Tom Waits ocupa a função de voz da dor).

Tanto Eid Ma Clack Shaw e Jim Cain são do segundo CD como Bill Callahan – antes ele se intitulava Smog -, chamado Sometimes I wish we were an eagle, de 2009. O álbum traz exatamente essa atmosfera, com canções tranquilas, soltas e estruturadas baseadas na voz de Bill.

As letras estão à altura da voz de Callahan, como bem descreveu Stephen Thompson, da NPR, ao menos uma frase de cada música apresentada no Tiny Desk Concert te prende a atenção:

Jim Cain: “I used to be darker / Then I got lighter / Then I got dark again.”
Rococo Zephyr: “I used to be sorta blind / But now I can sorta see.”
Too Many Birds: “If you could only stop your heartbeat for one heartbeat…”

Em 2010, ele lançou o disco ao vivo Rough travel for a rare thing. O registro resgata tanto o clima leve e “reflexivo” quanto canções que funcionam mais no palco. Vale a ouvida!

A última novidade de Callahan foi no começo do mês, com o lançamento do terceiro álbum de estúdio, Apocalypse. Ao ouvir, me veio à cabeça algumas músicas da fase solo – mas não esquizofrênica – de Lou Reed.

Em Apocalypse, as músicas instrospectivas dividem espaço com canções mais pontiagudas, mostrando uma relativa agressividade de Callahan. É o caso da primitiva Drover e da irônica America.

Este último disco é bom, mas não supera o Sometimes I wish we were an eagle. O New Album Releases disponibilizou os três álbuns citados para download.

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Em busca da essência perdida

Recentemente tive contato com dois artistas que me fizeram refletir sobre a essência da música. Com a evolução tecnológica, principalmente aquelas ligadas à comunicação, houve um despejo maciço de novas informações. Diariamente somos poluídos com inúmeros CDs, clipes e tantos outros lançamentos.

Lembro (mais ou menos) de uma história que ouvi de um dono de um grande estúdio. Pelo que eu me recordo, era mais ou menos assim: no final dos anos 70 houve uma tendência a se evitar usar válvulas em mesas de gravação. O uso de válvulas era uma tecnologia antiga, e a válvula tem uma série de chatices – é delicada, tem que esperar esquentar para se ter um bom resultado, além da iminência de queimar e ter que colocar outra. Assim, os engenheiros passaram a utilizar transistores no lugar das válvulas, transformando a mesa de som em algo muito mais prático.

Porém, quando se ouviu o resultado das gravações, percebeu-se que faltava algo. E era justamente o som “quente e aveludado” que a gravação a válvula proporcionava. Ou seja, o som perdeu sua essência.

Há um resgate de uma essência sonora análoga nos últimos anos: de bandas como Hives e Strokes até as cantoras atuais Sharon Jones e Amy Winehouse (quando essa se concetra em fazer coisa boa).

Vejo também parte desta idéia em dois artistas distintos e menos conhecidos: JD McPherson e Meschiya Lake. Ambos remetem a um rótulo vintage, mas cada um, a sua maneira, redescobriu a essência através de uma olhar retrógrado – no melhor sentido da palavra.

Signos e significados

JD McPherson é um músico que recentemente lançou o álbum Sign & Signfiers. O disco é voltado para o rockabilly e o rock dos anos 50. Além das músicas muito boas e com a alma vintage, o que chama a atenção também é a textura da gravação.

O álbum foi lançado pela HiStyle Records. Além de ser o selo, a HiStyle também é um estúdio de gravação que tem como característica ser 100% analógico e utilizar equipamentos antigos. Para Jimmy Sutton, dono da gravadora/estúdio, HiStyle é como um estúdio de boutique, que não tenta competir com grandes estúdios, mas apenas proporcionar uma sonoridade amigável aos músicos.

Diabo sortudo

A música de Meschiya Lake remete a um tempo ainda mais antigo, o jazz tradicional dos anos 30. A cantora se destaca não apenas pelo estilo músical e pela bela voz, mas por ser purista até na forma de se apresentar.


Esse foi o primeiro vídeo que vi dela

Junto com seu grupo jazzístico, The Little Big Horns, ela se apresenta nas ruas e praças dos Estados Unidos. No YouTube, é possível encontrá-la cantando em New Orleans e na Washington Square Garden, praça nova-iorquina que nos anos 60 servia como ponto de encontro entre os músicos de folk para troca de canções.

O que mais me chamou a atenção quando eu a ouvi pela primeira vez foi o poder da sua voz. Cantando na rua, sem qualquer equipamento que amplificasse sua voz, ela consegue ter uma abrangência enorme, além de manter as dinâmicas das canções.

A cantora lançou um álbum recentemente, entitulado Lucky Devil. A música que dá título ao álbum já mostra como o grupo é de alta qualidade.

Os dois álbuns estão disponíveis para download no site New Album Releases:

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Meu primeiro contato com Edward Sharpe and the Magnetic Zeros foi através de um vídeo que me deparei de pai e filha cantando Home, uma das canções do grupo americano.

Apesar de ter sido a pergunta “One day i’m gonna whistle?” (Um dia eu vou assoviar?) da pequena Alexa a coisa que mais me chamou atenção no vídeo, a canção é de um romantismo e alegria que me fez ficar curioso em conhecer a versão original.

Ao procurá-la, encontrei um vídeo de uma apresentação no programa Late Show, apresentado por David Letterman. Mais uma vez, a música (quase) ficou em segundo plano com o despretenciosismo na performance: o casal estava não apenas curtindo aquilo, mas aparentando explicitamente que eles estavam cantando para eles próprios, ao invés de montar uma apresentação voltada ao público. É como o refrão diz: Home is wherever I’m with you (Lar é qualquer lugar em que eu esteja com você).

O álbum de estréia, Up From Below – lançado em 2009 – varia em diversas vertentes. Ora hippie, ora folk, ora indie. O blog do Lenhador disponibilizou o CD para download.

Sugiro.

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