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Archive for janeiro \09\-03:00 2009

Não entrarei nos méritos tecnológicos. Harmônicos pares, harmônicos ímpares, freqüências, qualidade sonora, high-fidelity e afins. Só digo algo sobre essas comparações, que é fato constatado por mim mesmo: já ouvi determinados álbuns em várias tecnologias – mp3, vinil, CD – e cada um tem sua característica.

Adendo para polêmica: nos álbuns ouvidos em vinil, ouço sons que não ouvi nas outras configurações. Como se fossem versões frescas e vivas. Fato.

Voltando à temática principal: O som do vinil vai além dos aspectos técnicos e sutis na absorção da música. A influência do bolachão perpassa outros campos. Há uma relação, convivência e intimidade com a música que não é reproduzida em outras mídias. Seja isso limitação ou não, o fato é que há uma especificidade quando ouvimos um som no disco de PVC.

Na era da tecnologia digital, onde o iPod, mp3 e todo o glossário do século XXI se faz necessário, a música é facilmente manipulável. É possível trocar as ordens das canções, passar para frente trechos desagradáveis, pular faixas indesejáveis, montar compilações inimagináveis e até edita-las através de qualquer critério.

É o caso das playlists, altamente difundidas e que são listas de músicas feitas por qualquer um. A mesma modernidade se aplica aos mash-ups, que é a “arte” de sincronizar duas ou mais canções para formar novos arquivos, novas tendências.

Exemplos:

Outkast + Queen

Snow Patrol + The Police

Contudo, sem desmerecer a criatividade e a independência que a modernidade nos traz, a relação que temos com a música quando a ouvimos no vinil é completamente diferente.

Podemos ouvir música deitados, sentados ou em pé. Porém, é quase certo que, ao ouvir as canções de um alto-falante, não estaremos perto da fonte sonora. Trocando em miúdos: ouvimos música longe dos tocadores de música. E isso inclui o vinil.

Sendo assim, os tocadores de discos não têm a mesma flexibilidade que as mídias digitais. É preciso um movimento cirúrgico para trocar de música, quanto mais para passar o trecho indesejado. Isso sem contar o movimento físico completamente desgastante (culpa da modernidade e do conforto) que é se deslocar até o toca-disco para erguer a agulha e coloca-la no local exato (exatidão essa baseada na intuição) que a música lhe é mais agradável.

Nos conformamos, portanto, a ouvirmos as músicas nos toca-discos de forma mais íntima. Numa analogia chula, mas que ilustra bem a relação ouvinte/disco: nem sempre reconhecemos nosso grande amor ou nosso melhor amigo no momento que os cumprimentamos. Muitas vezes é preciso estabelecer uma relação, construir experiências que, num futuro, teremos uma afetividade concretizada e conscientemente produtiva.

O mesmo ocorre com a música. Nem sempre uma música lhe chama a atenção no primeiro contato. Às vezes é preciso conviver com ela até que tudo se encaixe, até que a letra, melodia e harmonia (NÃO DISSE HARMÔNICOS!!) lhe dêem prazer.

Ou seja, ouvir uma canção no vinil é conviver com a música de forma madura. Não iremos ignorá-la na primeira audição, já que o esforço (físico pela locomoção e mental pela atividade cirúrgica) que é trocar de música ou passar um trecho para frente é muito menos compensatório do que deixar a música dizer o que é que ela veio dizer. E, muitas vezes, é nessa exata hora que encontramos nossas preferências. É no momento de um quase “conformismo” sonoro, quando nos deixamos ouvir o quê a música tem a dizer que a compreendemos e tornamo-nos apreciadores dessas canções.

***

Como faixa-bônus (cultura possivelmente pós-vinil), um documentário sobre o bolachão, feito em Goiânia.

RESISTÊNCIA DO VINIL

Parte 1

Parte 2

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