Peço licença às normas e aos brocardos das Artes. Esse post é apenas um relato – temperado com devaneios – sobre a exposição de um artista que rejeitava o rótulo de “plástico”. Achava que restringia sua atuação. E Helio Oiticica estava certo.
A “Casa das Rosas” localiza-se em uma mansão de número 37 da Av. Paulista. Construída em 1935 com projeto de Ramos de Azevedo (que a fez para uma de suas filhas) o local contém, além da imponente residência, um belo jardim, presenteando, a quem quiser, uma espécie de fugere urbem express. Desde 2004, a “Casa das Rosas” se tornou “Espaço Haroldo de Campos”, abrigando móveis, fotografias, artefatos e a biblioteca do poeta concretista.
São alguns passos – menos de uma quadra – que separam a “Casa das Rosas” e o prédio do “Itaú Cultural”, bem mais moderno que a mansão. Contudo, as linguagens de cada local dialogam com mais harmonia desde março até o final de maio, quando acontece neste espaço a exposição “Hélio Oiticica – Museu é o mundo”.
As instalações e quadros se espalham ao longo de três andares e começam com as “Metaesquemas”, algo que segundo o próprio Oiticica, “não é pintura e nem desenho”. São desenhos geométricos feitos em cartolina que parecem estar soltos, pendulados. Datam dos anos 50, quando Hélio começava a brincar com as normas, antecipando o que viria na década seguinte.
A partir dos anos 60, Oiticica investiu na transcendência das artes. Para ele, Mondrian tinha levado ao extremo a pintura. Assim, algumas obras, como “Os núcleos”, são praticamente caracterizações em 3D dos quadros do pintor holandês. Nesse ponto, o artista já começa a induzir uma certa participação do espectador, que pode girar em torno da obra e olha-la na forma que lhe convir. Os “Penetráveis” consistem em algo tão pessoal quanto os núcleos. São instalações coloridas em que se pode caminhar dentro e através dos “quadros”.
Mas a participação do contemplador chegaria ao máximo em obras famosas como os “Parangolés” e os “Bólides”. Helio definia os Parangolés como sendo a “antiarte por excelência”. São capas (ou bandeiras) que formam uma pintura em movimento. Ou seja, para que a arte “desse certo” era preciso vesti-la e se movimentar. A mera contemplação não mais fazia sentido.
Hélio Oitica por Ivan Cardoso (1979)
Os Bólides partem do mesmo princípio, mas focam na experiência: tanques com água, sacos com café e bacias com terra incitam o visitante experimentar sensações, ao invés de apenas absorver a interpretação de sensações do artista.
A exposição ficará no Itaú Cultural até 23 de maio é imprescindível para quem estiver em São Paulo. O valor da entrada: Zero reais!!!